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Porque a banda de rodagem do pneu solta?


por Pércio Schneider*

Sabe aquele pedaço de banda de rodagem que você vê pelo caminho, principalmente em estradas? Popularmente conhecido como “jacaré”, pode ter se soltado tanto de um pneu novo quanto de um pneu reformado. Mas por que acontece a soltura da banda? Essa pergunta é difícil de ser respondida.

Em primeiro lugar é preciso ter ciência de que isso acontece com pneus reformados, mas também com os novos, reforçando o que já foi dito acima. E as causas podem ser quase impossíveis de se determinar, porque quando o pneu estoura, na maior parte das vezes, o que sobra não é suficiente para achar a origem do problema.

Todo e qualquer pneu tem limites de utilização (peso e velocidade), precisa estar corretamente calibrado (e muitas vezes não está) e sofre diversos impactos durante toda sua vida. E todos sabem que é comum os pneus serem submetidos a esforços que vão além de seus limites. O conjunto dessas situações, somado a problemas do próprio pneu, podem resultar em soltura.


Os danos podem ter como origem um problema de fabricação do pneu ou mesmo da reforma, já que nenhum produto está 100% isento da possibilidade de ter defeitos. Mas também pode começar por um dano sofrido durante o uso. Um furo mal consertado, por exemplo, pode provocar infiltração de ar ou água na carcaça, oxidando a estrutura e dando início a uma desagregação ou descolamento entre borracha e lonas, também vulgarmente chamado de deslocamento de lonas.

E aqui cabe um esclarecimento: lonas não se deslocam, não saem do lugar nem trocam de posição. Como um pneu é construído pela adesão de várias camadas de borracha e lonas metálicas ou têxteis, o que ocorre é a separação entre duas ou mais camadas, ou seja, um descolamento.

Na maioria dos pneus de carga, o limite de velocidade é 110 km/h. O peso depende de outros fatores, mas é ele quem determina a pressão a ser utilizada. Se uma dessas três características for alterada, as demais também devem ser: para carregar mais peso, é preciso aumentar a calibragem e diminuir a velocidade. Alguns fabricantes tem uma tabela que estabelece o quanto deve ser reduzida a velocidade conforme o aumento do peso. Mas você já reparou que o “jacaré” sempre está num trecho de descida ou no final de uma longa reta, e nunca na subida? E raramente em trechos urbanos?

Um impacto sofrido pelo pneu a baixa velocidade, dificilmente resulta em soltura. É o que ocorre em pneus de veículos de uso urbano. Mas passar por um buraco ou bater num degrau de cabeceira de ponte a 80 ou 100 km/h, carregado e com pressão incorreta, fatalmente causará um dano ao pneu que pode terminar em soltura. E nem sempre a banda se solta nesse momento, podendo acontecer tempos depois, quando já nos esquecemos do impacto sofrido. O impacto foi apenas o começo.


Outro fator que colabora – e muito – para a ocorrência dessa soltura é o uso incorreto de rodocalibradores automáticos. Na ocorrência de um furo, de qualquer dimensão, a única atitude correta é parar no primeiro lugar onde seja possível fazer o reparo e consertar o pneu. Lamentavelmente, o que vemos é a prática de seguir viagem achando que o equipamento vai repor o ar no interior do pneu e, por isso, não é preciso parar.

Só uma parte disso é verdade. O ar será reposto, sim, porém, o furo continua lá e o ar interno continua a ser perdido, e, à medida que passa por toda a espessura do pneu através do furo, uma parte do ar acaba se infiltrando na estrutura interna, por entre as diversas camadas do pneu.

Muitas vezes, essa infiltração resulta em bolhas. Quando essa bolha aparece na parte externa do pneu, temos a chance de ver e retirar o pneu de serviço. Mas quando a bolha se forma na parte interna, o estouro do pneu é quase certo já que só veremos a bolha se, por qualquer razão, for necessário desmontar o pneu.

E a soltura da banda é como a propaganda da Tostines: O pneu estourou por que a banda soltou ou a banda soltou porque o pneu estourou? Em outras palavras, a soltura é causa ou consequência? Isso é mais fácil de determinar do que a causa exata da soltura.

Pegue o “jacaré” e examine a parte de trás, oposta ao desenho da banda de rodagem. Se houver pedaços ou partes de lonas ou os metálicos, foi a carcaça que estourou e provocou a soltura da banda de rodagem, jogando longe um pedaço da borracha. Mas se a superfície estiver lisa, aí foi a banda de rodagem que se soltou.

E na hora de reclamar com o seu fornecedor sempre leve a carcaça e os pedaços da banda para serem examinados e, caso seja comprovado um problema ou defeito de fabricação ou reforma, exija o cumprimento dos termos da garantia.

*Pércio Schneider é especialista em pneus. Artigo publicado na revista Na Boleia (http://www.naboleia.com.br/), Março 2013, Edição 105 (http://www.estradanaboleia.com.br/revistas/edicao105/index.html)